“Ler é melhor que estudar.” Esta é
uma opinião quase unânime e compartilhada pela população letrada e pertencente
às elites intelectuais brasileiras: intelectuais, professores do ensino
fundamental, médio e universitário, jornalistas, comunicadores da mídia. No
entanto, a maior parcela de nossa população, embora hoje possa estudar, não
chega a ler. A escolarização, no caso da sociedade brasileira, não leva à
formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes e, às
vezes, chega mesmo a impedi-la. Ler continua sendo coisa das elites, no início
de um novo milênio.
Isso, se dá, em boa parte, porque as
práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma
pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela
sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola,
entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de
autor(idade) – escolar, científica – que devem ser entendidos e memorizados
para que o currículo se cumpra.
Isto é feito, em geral, em
todas as disciplinas, por meio de práticas de leitura lineares e literais,
principalmente de localização de informação em textos e de sua repetição ou
cópia em respostas de questionários, orais ou escritos.
Mas ser letrado e ler na
vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos
e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos discursos, de
maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e
avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; é, enfim, trazer
o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela.
Mais que isso, as práticas de leitura na vida
são muito variadas e dependentes de contexto, cada um deles exigindo certas
capacidades leitoras e não outras. Neste pequeno texto pretendo discutir como
penso que as práticas de letramento e de leitura escolar, em todas as
disciplinas da educação básica, deveriam ser diversificadas e alargadas, de
maneira a preparar nossos jovens para uma leitura cidadã, inclusive na escola.
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a
cidadania. São Paulo: SEE: CENP, 2004.
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